Bati a porta, passei a chave e desci pelas escadas, quando ia por o pé no saguão ouvi vozes e muita frescuragem. Era os michês da Gorda. Vários. A Gorda que chupava um, parou na hora que me viu.
Só olhou pra um deles. O cara veio andando pisando forte em minha direção. Do lado de fora, na calçada, o Cara Feia me esperava sentando no capô de um carro, fumando, atras da barba e dos óculos escuros. Só olhava.
O viadão veio pra cima. Se continuasse haveria uma colisão. DUELO AO POR DO SOL; Tipo, vamos ver quem tira o peito. Não mudei minha rota. Segui na reta e o michê também. Já diante da trombada ele meio que ficou na segunda, atrasando o passo. Era o espaço que eu precisava. Larguei o braço. Tremendo diretaço de direita na ponta do queixo. Melado desceu na hora, minha mão inchou e Joe Frazier se orgulharia com certeza. Quando o michê caiu os outros vários vieram pra cima:
“Filho da puta, qualé??”
Não vacilei. Meti a mão na cinta, saquei na novemeóta, pretona, reluzente, enfiei dentro da boca do primeiro que chegou:
“Parada é essa mermão; Quando a Gorda mandar vocês cairem pro arregaço, vem forte. Num pipoca não que encho esses cu arrombado de vocês de bala!!”
Todo mundo parado assustado. Cara Feia, seguida fumando, sentado em cima do carro. Fui saindo a gorda falando algo sei lá... Saí na calçada e falei pra ele:
“Vamo ae doido?”
“Bora”
Descemos rumo a bar dos italianos. Ele jogou o braço por tras do meu pescoço e falou:
“Ta brabo meu Poeta?”
“Eu num tenho tempo pra ficar brabo Cara feia. E que porra de “meu poeta” o que... Coisa de viado da porra, rapá”
Ele deu risada e falou:
“A Gorda não te perdoa. Fica esperto. Ma também porra... Tu queria estrangular a desgraçada...”
“Deveria ter dado um tiro nessa maldição”
“E gastar uma bala naquilo?”
“Ah sei lá Cara Feia. Por hora tenho mais com que me preocupar. Depois vejo algo com o Shuin. Ah lá... Chegamo. A lá o doido...”
“Só. Ele, a kombi, a boina...”
Entramos no bar.
Do lado de lá do balcão estava nosso mano da kombi e suas indecitvéis boinas a la anos 70, sorvendo uma bela Serra Malte. Cara feia foi falando:
“E ae doido? Beleza?”
“Eu to. Já você num sei né? Some e quando aparece vem cheio dos porre criativos...”
Rimos. Cara feia mandou:
“Tomar no seu cu rapá... E ae, como ta nossa confraria?”
“Tudo no esquema. Já editei e configuurei as parada. Agora é com você Poeta; Como faz? Lança já a badaioca?”
Pedi dois copos e outra cerveja antes de responder:
“Calma. Precisamos primeiro pensar em como lançar a parada. E se cobrir porque os tubarão vão vir grandão pra cima da gente...”
“Puta que pariu! Olha lá quem vem vindo...” - Falou o Mano da Kombi cobrindo o rosto com as mãos...
“Onde Carai... Xiiii olha lá Poeta...”
“Puta merda é o Escova!!”
Escova:
Tipinho fácil na City, pós decadencia; Cabideiro, funcionário de vereador corrupto, safado, fantasmão de câmara, tranqueira que mama nas tetas do falido funcionalismo público. Não sabe nem de Arte nem de maldição. Um merda. Apenas um pobre diabo corrupto...
“Meus Artistas!!!”
“Seus artista o caralho, Escova! Vaza daqui que ninguém te chamou na grade não...”
“Calma poeta... Você ta nervoso???”
“Não. Mas se eu ficar seu nariz vai saber já já...”
“Vai mano, vaza daqui que num temo nada procê não...”
“Mas meu amigo da Kombi transada... Deixa eu falar primeiro; To sabendo que vocês estão criando algo e bem... Quem sabe não aceitam uma parceria? Tenho uma verba fácil, umas merendas escolares ae que desviamos. Aí tava pensando em prensar uns livros ae de auto ajuda mesmo, grana fácil. A gente racharia a venda...”
PLAFT!
“Ai, ai, FILHO DA PUTA CE TA FUDIDO!!”
O barulho foi feito pelo Cara Feia que meteu uma garrafa de cerveja no meio do quengo do Escova. Ele era dado a essas surpresas. Ficava quieto e me saía com umas dessas...
“Caraio, Cara Feia! Tinha que ser com a garrafa cheia, porra?!?!”
“Te pago uma duzia agora, Kombi Man... ”
A mocinha do bar ligou o rádio, deu a volta no balcão e veio passar um pano no sangueiro, além de recolher os vidros.
Seguimos a prosa...
NEM JUNG, NEM FREUD QUIÇÁ LACAN: NEUSONA ÜBBER ALES! by...
