28.3.10

NO VALE ONDE NASCE AS ROSAS NEGRAS; E um nó cego na garganta do Coltrane, regado à um Macallan imaginário...













Termina mais um dia frio e cinza na fábrica. Hora de cair fora.

Bocada noite; Carros aos montes, fumaça, marreteiros e camelôs correndo para guardar as muambas, zumbis que correm rumo ao metrô archiesheppiano, para o trem do inferno. E o cheiro de mijo toma conta de toda a cidade. Ando.

Ralo meu caminho na sola do bravo all star. Uma velha grita, “socorro, fui roubada”, pivete corre, passa a meu lado a jato, mal vejo a cara. De dentro de um boteco um nóia é arremessado à calçada pelo dono. Na esquina seguinte, o policial corrupto faz o acerto com o passador de pó da quebrada. Nem me notam. Coloco os fones bem dentro das orelhas e aumento o som. O sax vibra, pula, pisoteia junto com meus pés, a calçada – sou invisível agora.

Nas próximas quadras tento não prestar atenção em porra nenhuma - nada me desperta o mínimo de sentimento. Sinto o Mount Rushmore jabeando as paredes do meu estomâgo,no outro canto a minha gastrite. Azia do caralho! Tento sufocá-la com a nicotina do meu marlboro amassado.

Sigo andando...

Na boate vizinha do meu hotel começa a movimentação. Primeiro chega o segurança, depois o porteiro, a garota da bilheteria e uma ou outra puta já circulam pelo espaço. Conheço todos. Entro. Rola um uísque falsiê, paraguaio, com rótulo, selo e tudo tão escocês quanto eu, vendido pra gringo otário que sempre aparece. Pelão é o barman.

"Se liga só nessa que arrumei..."

Sacou uma garrafa de Macallan 1926. Com um deste de verdade eu fodo até com a Monica Belucci. Me vendeu um por 20 pratas pra receber no fim do mês.

Tenho um esquema com ele...

Atravesso a rua e chego no hotel onde moro. Na entrada a sindica gorda, fedorenta, de dentes amarelados e hálito de doritos já vem logo berrando Num tem água hoje não. Pobrema la da impresa que cuida dos esgoto”.

Mentira.

A gente paga o caralho do aluguel e as contas em dia e a gorda ao invés de quitar as paradas, gasta toda a grana com chupadas nos pivetes da redondeza. Finjo que acredito por puro cansaço. Não tenho a menor vontade de brigar com a filha puta.

Entro no meu quarto, arranco o bico da garrafa pra beber no gargalo mesmo. Procuro por um disco... Encontro. Meto na velha vitrola pra rolar. Trane com Ellington; Quem diria que esse encontro poderia ser possível? Seis anos depois o sax tenor calou-se para sempre. Será que não é essa solução? Que diabos vou ficar fazendo nesse mundo se nem Coltrane não está mais por aqui pra me aconselhar?

Dou uma golada cumprida no uísque vagabundo. Fecho os olhos e imagino que seja de fato um Macallan...

Agora o sax ataca com vontade uma daquelas notas embaralhadas e suadas. O trampolim é uma boa saída. O hotel tem 5 andares, só ir até a lajona e pular. Mas tenho medo da altura, do vácuo, do voo, da brevidade e da gravidade da queda...

O uísque acabava rapidamente...

Volto o disco no começo. Linda a melodia da música de abertura.

Pra mim não tem mais começo...




9 comentários:

Erika disse...

uaaaaaaaaauuuuuuuuuu!!!! Que chique hein amigo? Isso então é um filme da fase inglesa do hitchcock, tipo anos 20 mesmo em forma de blog, livro, ou sei lá o que? Gostei muito mesmo má! Me lembra uns filmes que rolavam na tv tipo no meio da madrugada ce lembra? Poxa ta muito legal.
Parabéns por ele pelo seu parceiro bonitão! hihiihi

bjinnnn

Luciana disse...

Olha aí! Cheio de style o moço de Parque Novo Oratório! Que coisa mais bonita o blog. Se bem que pelas fotos, apesar do godard/truffaut tem lá uma moça assim... "pouco recatada" por assim dizer e tenho certeza que é coisa tua né, Lelo?! Ma num toma vergonha nessa cara.
Gostei do blog e do parceiro galazão estilo rock star que ce arrumou mas não apresentou pras suas amigas dde longa data né? rsrs

1 beijo

Lico disse...

porra cara ta espetacular essa montagem ce ta ficando bom nisso ein mano? Muito du caraio essa de código genético e ja abrir logo com nego wolf aí é show. gostei desse texto, lembra aquelas bocada sinistra mesmo, tipo onde ninguem ve nada, sabe de nada e o baguio prende a gente. então quando vai ter história nova lelo?

abraço doido

Betinho disse...

Olha agora!!!

Cheio de mistérios é o Eliott Ness no P.N.O e baixista, que aparece que agradou a frangaiada aqui da vila hein Lelo??? Mais porra eu conheço ele. Uma vez fomo ver o saco de ratos, num dia que o Marcelão do Montanha tocou batera pra eles e o baixista era esse cara. Animal o individuo toca pra caraio! Mas é do jazz né? E cara eu curti mesmo foi essa ae do boqueirão parece o cambau que deram no Delei em Ubatuba lembra? kkkkk E ele nem tinha um Monk pra ouvir!

Cola la no Bar do Caldinho mano!
Abraço

Juliana disse...

Opaaaa....Má...amei o novo Blog....as estórias são sempre um máximo qdo tem seu dedinho no meio...rsrsrs....te desejo mta criatividade e sucesso....te amo mto viu!!! Slep!!!

BjoSsSs....

Carolina Sorenssen disse...

Olá!

Me chamo Carolina e bem eu estava fazendo uma pesquisa no google sobre o john coltrane e quando coloquei a palavra "coltrane" apareceu um link de um blog onde alguém queria enforca-lo... Fiquei curiosa e vim ver. E puxa, que idéia mais original essa, desse blog de vcs. Parece meio que história em quadrinhos, cinema. E vocês tem muito bom gosto e conhecimento musical. Será que vcs não poderiam me ajudar com minhas pesquisas? To fazendo meu tcc sobre a história do jazz.

meu e-mail é: carolinasoren@yahoo.com.br

Desde ja, obrigada e vou indicar o vblog de vcs.

grata

A FABRICA... disse...

pois não, carolina. de que precisas? manda um end. de mail válido, ok? abs

Carolina Sorenssen disse...

aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... Desculpa! faltou por o ponto.. hihihi...


carolina.soren@yahoo.com.br

obrigada pela atenção! Vcs tem um e-mail para eu me comunicar com vcs?

A FABRICA... disse...

hummmmm... menina rápida! Ta bom Carolina, veremos o que vamos fazer com vc...