30.4.10

DE FRENTE COM O SATANÁS E DUAS GOTAS DE SUPER BONDER...
































Calor do cão!

Cinco da tarde, acordei todo suado, grudento. Cansaço da viagem. Dormi um sono, daqueles sem vontade de acordar ou, pelo menos, de acordar em outro lugar diferente dessa porra dessa City. Fui no banheiro, lavei o rosto, olhei para o espelho. Tava barbudo. Uma barba bem preta, cheia. Nem percebi ela crescendo. Sequei o rosto, voltei pro quarto...

Dei uma sacada e vi um punhado de grana em cima da escrivaninha. Nem deu tempo de me animar e já me lembrei que era a verba que devia pro Pelão. Pra sofrer mesmo, contei; Deu 370 pratas. “Porra, 370 conto de uisque vagabundo... To bebendo pra caralho!” - Pensei. Mas logo em seguida, pensei também; “Que se foda”. Meti o tenis no pé, dei um confere na janela, vi que a boate já estava meia-porta. Significava que o Pelão tava lá. Botei uma camisa, peguei o maço de Camel e desci.

Na porta, la veio a Gorda.

Toma cuidado hein cara-feia? O bichu ta pegano...”

Nem dei atenção. Porra de tramela do caralho, a Gorda fala muito! Atravessei a rua sem prestar atenção. Não vi os bicho solto do outro lado, saindo da boate. Estranhei. A rapaziada que comandava as bocas e o crime na baixada da City, junto com os bicho solto aqui da parte de cima. Todo mundo rindo a larga. De frente saiu Zeca Alicate. Ladrão ruim, comandante da ação, criminoso natural, era na frente do crime na área de cima. Bandido do conceito, respeitado na alta escala do crime. Na City não se da meia volta; Segui meu caminho. Quando cheguei ele e seu dente de ouro vieram em minha direção:

Olha ae... Nosso poeta voltou! Qualé rapá?”

Beleza Zeca? Tá tudo nos conforme...”

Bão assim né? Poeta, conhece a rapaziada do conceito? Essa é a galera da correria na parte baixa, esse é Chiclete...”

Chiclete.

Não gostava da cara desse sujeito. Todo engomado, bonzinho, educado, considerado pela sociologia moderna “ladrão diferenciado”. Mermão... Sociólogo conhece o Max Weber. Mas não sabe porra nenhuma do crime!

Você olha no olho do cara e saca se o elemento é da maldade ou não é. E ladrão é ladrão! Tem nada de diferenciado, não... Você olha no fundo do olho do cara e já saca qual é a dele. Mas no olho desse tal Chiclete, não conseguia se ver nada. Eu sabia que ele tinha altos esquemas, uns planos em cima e que era respeitado mas sei lá... Ele não era o tipo do cara que eu dividiria uma Serra Malte.

Cumprimentei todo mundo, uns 6 caras. Tudo no respeito. Zeca tava entrando no Chevelle 72 quando da porta ainda me falou:

Então poeta; Não ta precisando de nada mesmo? Faz tempo que você não da um lucrinho pros irmão...”

Não, obrigado Zeca. To mais nessa vida não...”

Ele gargalhou alto. Entrou no carro. Chiclete entrou por último, me encarando com um risinho de filho da puta no rosto, Entrei na boate. Visão do inferno! Cadeira pro alto, em cima das mesas, chão imundo, cheio de bituca de cigarro, bebida derramada, fedor do cão...

E aêêê... Nosso poeta voltou!!” - gritou o Pelão la do bar, no fundo da boate:

Porra de poeta o caraio, Pelão...” - Respondi desviando do lixo. Cheguei no bar, onde Pelão dava num trato naquele lindo balcão de mármore:

Firmeza Cara-Feia? Vai sentando ae”

Tamo ae Pelão...” - Respondi apertando sua mão.

Criolo tava de redinha no Black. Parecia uma copa de arvore o cabelo do criolo. Um black trabalhado mesmo. Mas quando ele punha aquele redinha vermelha no quengo era foda de segurar a risada. Só não soltava porque eu sabia que se o fizesse ele me dava um tiro na cara...

E aí? Tava nas Zoropa, Cara-Feia??”

Sei lá onde eu tava, onde eu to, Pelão. Então velho... - Meti a mão no bolso e saquei da grana – Ta aí o que te devo do mês, Pelão.”

Negão abriu um sorrisão bonito, dente brancão, reluzente. Mandou:

ÔÔÔ Cara-Feia, ae Pelão fica feliz! Xo guardar pra dar esse pros neguinho comprar um doce, né? E o que manda Cara-Feia? Sem novidade??”

Novidade pelo que eu vi tem aqui né Pelão? Qualé dessas alegria ae entre os bicho solto, mano? Cara daqui, cara da baixada...”

Negão foi até o freezer, pegou um Serra Malte bonita de gelada, um copo e voltou rindo. Abriu a cerveja, encheu um copo, empurrou em minha direção e falou:

É a paz entre os homens, Cara-Feia. Tu num viu o Papa falando? Temo que viver em paz...”

Ah tá... To sacando qualé a dessa paz... Vou dormir nesse barulho, tá?”

Ele gargalhou com gosto:

Cara feia é o seguinte; O que ta deixando eles tudo alegre eu num sei. E é bom tu não saber também que teu negócio não é crime é letra. Só sei do seguinte, quando eles tão alegre eu fico alegre também. Os negócio rende, os neguinho come uns doce a mais e você não vai pagar as cerveja que tu tomar hoje. Não ta bom assim??”

Sei não Pelão. Fico agradecido pelas breja. Um brinde ao senhor, Lord Black...”

Lord black é a infeliz que te cagou no mundo, seu puto... EU SOU O PELÃO!!”

Rimos juntos. Não dá pra dizer que éramos amigos mas eu gostava do Pelão e sabia que de uma forma ou outra, ele tinha lá algum apreço por minha pessoa. Também sabia que ele tava todo alegrão porque deveria ter feito a boa com os cão. Criolo mandava na noite. Vagabundo comia uma puta, queria cheirar na boate? Era ele quem fornecia o pó e era do bom. Ladrão precisava de um canhão frio? Procurava o Pelão. Ou seja; Pra ele fornecer, alguém tem que passar a mercadoria... Bom, segui tomando a cerveja. Depois de uma boa golada, virei pro negão e mandei:

Pelão que ce acha desse Chiclete? Sei lá... Cara estranho né não?”

Ele arrumava umas taças no porta copos em cima do balcão. Ficou uns segundos em silêncio até que virou, me olhou nos olhos e falou:

Cara-Feia, chiclete que eu sei, gruda e eu não gosto. Isso é só o que eu sei.”

To ligado, Pelão.”

Matei a cerveja ele botou outra na camaradagem, era o que tínhamos a fazer. Nada mais precisava ser dito...

5 comentários:

Erika disse...

Ah que bacana! Sabe que eu ia sugerir isso mesmo... É legal ter personagens da City além dos dois caras. Ja foi assim com neusona e agora com esse Pelão. Ta mui legal o blog.

bj

Lucas disse...

Boa tarde

Lí o texto, gostei também do lance de ter dialogos e tals mais eu venho aqui hoje me desculpar pelo infeliz comentário que fiz alguns dias atrás. Tentei fazer uma piada e reconheço que fui péssimo. Tava bêbado sim mas não quis ofender ninguém, nem denegrir a integridade desse ou daquele bairro como falei, fui muito infeliz e admito isso. E assim como não quis ofender ninguém espero não ser ofendido após esse comentário. Também queria agradecer ao Tinho pelo que ele disse no comentario dele. Tenho 23 anos e depois que eu li eu repensei algumas coisas e me ajudou muito parabéns pra vc e por sua luta Tinho.

Ana Elisa disse...

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiii deu um gostinho de quero maissss.... Adorei esse Pelão. A parte da redinha do blak é impagável esse The vox então kkkkkkkkkkkkkkkk MUIIIIIIITOO BOOOOOMMM!!

Claudio Cox disse...

É isso aí ... atitude de responsa Lucas!!!
abraxxx

Carolina disse...

Acertaram até na foto do capeta. Belo texto!